O que acontece quando a desinformação e as fake news saem das redes sociais e afetam as nossas vidas?

[…] a partir dessa pergunta de pesquisa, foi elaborada uma agenda de estudos sobre como a desinformação afeta políticas públicas:

SILVA, Ergon Cugler de Moraes. Conspiracionismo no Brasil em números. São Paulo – SP, Brasil, 2024.

Mapeamento inédito no Brasil revela rede com 2,2 milhões de usuários em grupos de teorias da conspiração no Telegram

Desde grupos brasileiros glorificando Hitler, até movimentos antivacinas que lucram com a venda de dióxido de cloro e desparasitação para crianças: As comunidades de teorias da conspiração brasileiras presentes no Telegram propagam discurso de ódio e lucram diariamente com a mentira, é o que revela este mapeamento inédito sobre a temática no país. Em uma série de 7 estudos publicados em cooperação com o ArXiv da Cornell University, foram investigadas mais de 27 milhões de conteúdos, ao longo dos últimos 8 anos (2016-2024), envolvendo 2,2 milhões de usuários em 855 comunidades abertas no Telegram que promoveram narrativas conspiracionistas.

SILVA, Ergon Cugler de Moraes; VAZ, José Carlos (org). MATOS, Brendaly Sampaio de; SILVA, Ergon Cugler de Moraes; CUCCIN, Isabella Natali Miranda; HORA, Letícia Sakihama de Menezes; ROSSI, Marcos Vinicius. Como a desinformação impacta políticas públicas?. set. 2021.

A desinformação pode afetar as políticas públicas de 23 formas mapeadas diferentes

Foram sistematizados mais de 4.000 materiais ao longo de um ano em um mapeamento de categorias de potenciais incidências da desinformação e das fake news ao Estado e à sociedade. Dentre os exemplos estão: a falta de adesão às campanhas de vacinação infantil contra sarampo e poliomielite, após falas de autoridades que colocaram a ciência em dúvida, ou, ainda; o prejuízo orçamentário no Estado diante do empenho de recursos públicos em medicações sem embasamento científico; ou ainda, o desnorteamento dos agentes públicos que atuam na ponta, implementando políticas públicas, dentre outras identificadas.

SILVA, Ergon Cugler de Moraes. Nota Técnica 16 – Desinformação sobre urnas eletrônicas persiste fora dos períodos eleitorais. 2023. & SILVA, Ergon Cugler de Moraes; OLIVEIRA, Ana Gabrielle Neves de. Informational co-option against democracy: comparing Bolsonaro’s discourses about voting machines with the public debate. 2023.

Os líderes autocráticos podem utilizar da legitimidade institucional para forçar uma 'Cooptação Para-Institucional'

Utilizando técnicas de Ciência de Dados, foram analisados mais de 20.000 conteúdos e identificados 183 ataques de desinformação do ex-presidente Jair Bolsonaro às urnas eletrônicas durante seu mandato (2019-2022). Tais ataques comparados sistematicamente com as principais fake news em circulação, revelando uma alta similaridade e convergência temática e semântica, indicando um alinhamento discursivo considerável. Além disso, foi observado uma forte coincidência temporal entre os picos de ataques de Bolsonaro e as fake news em alta circulação. Resumindo, o estudo aponta para um alinhamento tanto discursivo quanto temporal entre as fake news e a narrativa de Bolsonaro ao longo de seus quatro anos no cargo.

SILVA, Ergon Cugler de Moraes. Negacionismo institucional: um estudo de caso sobre políticas públicas baseadas em desinformação e negacionismo pelo Governo Federal durante a pandemia da COVID-19 no Brasil. 2023.

Os líderes autocráticos podem cooptar o Estado e forçar uma dinâmica de 'Negacionismo Institucional'

Após mapear mais de 20.000 falas e conteúdos do ex-presidente Jair Bolsonaro e comparar seus posicionamentos durante a Pandemia da COVID-19 com materiais institucionais do Governo Federal, foram identificados mais de 2.500 materiais publicados institucionalmente pelo Governo Federal que publicamente defendem ou dão legimidade ao tratamento precoce e práticas ‘off-label’, sendo práticas reconhecidas como ineficazes cientificamente pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Em sítese, este artigo propõe o conceito de ‘negacionismo institucional’, o qual se refere à dinâmica em que desinformações, fake news e negacionismos viabilizam a elevação de interpretações na dimensão discursivas de líderes autoritários para uma dimensão institucional, resultando em orientações às políticas públicas baseadas em desinformações e negacionismos.

SILVA, Ergon Cugler de Moraes; CASTRO, Samara Mariana de; SANTOS, Nina Fernandes dos. Desordem Informacional e Instituições sob Ataque: Como se caracterizaram as narrativas do ex-presidente Bolsonaro contra o Judiciário brasileiro entre 2019 e 2022?. 2023.

Os líderes autocráticos podem engajar ataques às 'Instituições', mirando para além 'Indivíduos' e 'Políticas'

Após analisar mais de 20.000 declarações do ex-presidente Jair Bolsonaro relacionadas ao Poder Judiciário, foram identificados 314 ataques ao Judiciário brasileiro. Esses ataques visavam desgastar a instituição, sendo mapeadas desinformações questionando suas decisões, seus membros e, por fim, a própria legitimidade do Ente. Observou-se uma campanha cronológica de ataques, incluindo momentos cruciais, como a campanha pelo voto impresso em 2021 e as eleições de 2022. Em resumo, o estudo revela uma campanha contínua de Bolsonaro contra o Judiciário, com quase um ataque a cada quatro dias durante os quatro anos como presidente.

SILVA, Ergon Cugler de Moraes; PAOLINO, Tayná Lima. Nota Técnica 01 – Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG). Ciência sob Ataque: Bolsonaro fez quase um ataque por dia contra a Ciência e as Universidades entre 2019 e 2022. 2023.

Os líderes autocráticos podem promover ataques contínuos, visando desmoralizar uma pauta posta como adversária

Após analisar mais de 20.000 declarações do ex-presidente Jair Bolsonaro relacionadas à Ciência e às Universidades, foi identificado que ele atacou a Ciência e as Universidades 1.348 vezes durante o seu mandato como Presidente da República (2019-2022), sendo quase um ataque por dia. Apesar do pico de ataques que Bolsonaro realizou contra a Ciência e as Universidades durante a Pandemia da COVID-19, houve uma constância de ataques ao longo dos meses da presidência, tornando-se uma prática cotidiana em sua estratégia comunicacional. Em resumo, se destacam as categorias de defesa do tratamento precoce (599 vezes), o negacionismo antivacina (263 vezes), a crítica ao isolamento social (215 vezes), o descrédito climático (140 vezes), crítica à Universidade e à pesquisa (41 vezes), crítica ao uso de máscara (30 vezes), crítica às pesquisas de opinião (23 vezes) e outros ataques mais genéricos (38 vezes).

GUERRERO, Daniela Campolina Rebello; SILVA, Ergon Cugler de Moraes. The President’s Versions: How Did Bolsonaro Format His Speech to Dialogue with Different Social Segments during the Presidency?. 2023.

Os líderes populistas podem segmentar seu discurso com 'Versões' opostas entre si para cooptar mais apoiadores

Foram analisadas mais de 20.000 declarações do ex-presidente Jair Bolsonaro durante sua presidência (2019-2022). A análise abordou três aspectos principais: o aspecto temporal, a presença em diferentes plataformas e a segmentação do discurso. A análise temporal revela que, durante a Pandemia da COVID-19, Bolsonaro utilizou a crise como uma ‘janela de oportunidade’ para promover suas agendas de políticas e direcionar sua retórica. Em plataformas variadas, ele adotou estratégias distintas, com discursos populistas em eventos públicos e foco em questões sociais e econômicas nas redes sociais. A análise de segmentação identificou quatro grupos principais que Bolsonaro buscou atingir: o segmento ideológico e conservador, a classe média, a classe trabalhadora e os liberais econômicos, e as comunidades locais. Em resumo, este estudo realça a importância da análise da segmentação do discurso para entender a comunicação de líderes autoritários e desenvolver estratégias de combate às desinformações.

VARGAS, Betiana Elizabeth; HERNÁNDEZ, Santiago Tomás; SILVA, Ergon Cugler de Moraes. Nota Técnica 01 – Milei solo habla de Milei. 2023.

Os líderes populistas podem adotar um discurso centrado em 'si próprio' para reforçar símbolos e a autoimagem

Após analisar mais de 4.000 tweets dos candidatos à presidência da Argentina até as prévias presidenciais de 2023 (@JMilei, @PatoBullrich, @HoraciorLarreta, @SergioMassa e @JuanGrabois), foi observado que Milei utilizou uma estratégia de mencionar a si mesmo em terceira pessoa em 989 ocasiões de seus 3.168 tweets. Essa tática de comunicação não apenas aumenta a visibilidade de seu próprio nome, mas também destaca o foco de Milei em si mesmo. Essa abordagem é mais expressiva do que representativa e funciona como um ‘Godzilla’ eleitoral, onde atacá-lo gera discussões e fortalece sua presença no cenário político. No campo da desinformação, ressalta-se o quanto tal tática limita o enfrentamento às fake news divulgadas.

VARGAS, Betiana Elizabeth; QUISPE, Lucía; HERNÁNDEZ, Santiago Tomás; SILVA, Ergon Cugler de Moraes; FOLTRAN, Luiza. Nota Ténica 02 – El Territorio Digital de los Seguidores de Milei: Del Comercio a la Política.

Os líderes populistas podem utilizar comunidades digitais que ocultam sua estética política para mobilizar apoiadores

Foram observadas 67.977 publicações entre 01/01/2023 e 14/10/2023 em comunidades de apoio a Javier Milei no Telegram. Revela-se a importância do espaço digital para a mobilização digital de líderes populistas. No caso de Milei, os grupos do Telegram ligados a sua figura formam uma ampla comunidade digital ativa para além de temas políticos, mas também de negociação de serviços e bens comerciais, onde ideias de natureza comercial e política são relacionadas. Com uma mobilização constante de grupos comerciais que apoiam Milei sem abordar questões políticas, tais comunidades promovem um contínuo doutrinamento ideológico com um véu comercial.

SILVA, Ergon Cugler de Moraes SIlva; ORTELLADO, Pablo. Nota Técnica 18 – Discurso de fraude eleitoral na Argentina no Telegram e no Twitter.

As comunidades digitais podem escalar pautas em larga escala ao mobilizar desinformações e conspirações

Um levantamento no Telegram e Twitter mostra a explosão do discurso de fraude eleitoral nos últimos dois dias. A estratégia parece retomar os discursos de eleições fraudadas adotados por Donald Trump nos Estados Unidos e Jair Bolsonaro no Brasil. No Telegram, foram observados 81.771 publicações, onde o discurso sobre fraude no dia da eleição e nas 24 horas seguintes é maior do que dos 295 dias anteriores. No Twitter, foram extraídos 28.617 tweets com a narrativa de fraude nas urnas, com uma concentração de 53,68% dos tweets entre o encerramento da votação e as 23h59 do mesmo dia, mostrando ágil mobilização no Twitter e engajamento da tese de contestação às eleições. Além disso, foram encontrados diversos indícios de uso massivo de bots, com mensagens idênticas alegando fraude.

SILVA, Ergon Cugler de Moraes; COSTA, Pamela Quevedo Joia Duarte da; VAZ, José Carlos. Universidades públicas e capacidades estatais sistêmicas para o enfrentamento da Pandemia da COVID-19 no Brasil. in: Políticas públicas e Covid-19: a experiência brasileira. 2022.

As disputas (des)informacionais podem sustentar desmontes de políticas públicas e orientar orçamentos públicos

Após mapear e categorizar mais de 3.000 iniciativas das Universidades contra os efeitos da Pandemia da COVID-19 por um ano, realiza-se uma análise orçamentária dos investimentos em Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo Federal para buscar entender se tais esforços foram ou não reconhecidos a nível de orçamento público. Em síntese, identifica-se que os ataques retóricos (des) informacionais contrários às universidades promovidos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro não pararam apenas no discurso, mas se materializaram em cortes no orçamento público, signicando um ataque duplo, um retórico e outro institucional-orçamentário.

SILVA, Daniela Salú Mateus da; SILVA, Ergon Cugler de Moraes; MONTEIRO, Ian Vitor dos Santos; BREDA, Natália Fiorante; COSTA, Pamela Quevedo Joia Duarte da; VAZ, José Carlos (org). LGBTQIA+ em Pauta: Análise de Questões-Problemas em Políticas Públicas. 2021.

A inexistência de dados públicos em contextos de desinformação pode embasar a omissão do Estado

Foram mapeadas 43 lacunas informacionais em políticas LGBTQIA+ em território brasileiro, as quais são usadas para ‘legitimar’ a ausência de políticas públicas para problemas públicos. Em síntese, o material, elaborado ao longo de um ano em parceria com pesquisadores voluntários, aponta como a ausência de dados públicos leva à ausiência de políticas públicas e, ao mesmo tempo, a ausência de políticas públicas leva à ausência de dados públicos. Em um contexto de desinformações e discursos de ódio, tais retóricas são observadas como legitimadoras de uma omissão estatal. São discutidos aspectos de capacidades estatais sistêmicas e apontadas alternativas práticas para as lacunas encontradas com experiências de políticas públicas identificadas em outras esferas de Governo.

SILVA, Ergon Cugler de Moraes; CHAVARRÍA, Héctor Solano. Elecciones en Bolivia y la construcción de sentidos en la arena digital. 2022.

A desinformação pode utilizar de esteriótipos para promover anulação de legitimidade de adversários em disputas

Foram observadas as publicações no Facebook durante o período das eleições subnacionais no departamento de La Paz, Bolívia, em 2021, com os três candidatos: Franklin Flores (MAS-IPSP), Santos Quispe (Jallalla) e Rafael ‘Tata’ Quispe (MDS). Foram selecionadas cinco palavras-chave: ‘democracia’, ‘pandemia’, ‘economia’, ‘wiphala’ e ‘racismo’. Foi observada a naturalização da desconsideração das regras democrático-institucionais por candidatos (a suposta ‘fraude’) com a promoção de desinformação e discursos tendentes à anulação da posição de força e legitimidade de uma alteridade considerada ameaçadora (‘os masistas’). Constata-se a transversalidade da desinformação com esteriótipos aplicados sobre os adversários ao pleito departamental.

SANCHES, Bruno Henrique; SILVA, Ergon Cugler de Moraes. Democratizing the Technosphere: A dual-layered analysis of the digital governance. 2023.

As redes sociais têm aspectos 'Públicos' e 'Políticos' apesar de uma natureza 'Privada' e 'Técnica', requerindo governança híbrida

Sem buscar reinventar a roda, o esforço é questionar uma falsa dicotomia estabelecida e propor um contexto híbrido. Após revisão de literatura sobre o processo de construção de pensamento sobre as características e naturezas das tecnologias, organiza-se uma reflexão a partir da iminência da ‘Technosphere’. Apresenta-se a necessidade de repensar a falsa dicotomia entre público e privado, técnico e político nas plataformas digitais mediadas por algoritmos. Essas plataformas, que se autoproclamam exclusivamente ‘privadas’ e ‘técnicas’ para buscar evitar regulamentação estatal, mesmo em meio à propagação de desinformações e conteúdos nocivos em seus ambientes, na verdade desempenham papéis ‘públicos’ e ‘políticos’, servindo como meios de participação e influência na definição de parâmetros, algoritmos e conteúdos em circulação.

SILVA, Ergon Cugler de Moraes; VAZ, José Carlos; FREITAS, Anderson Ribeiro. Metaverse as dispute: challenges for a state action agenda. 2023.

Os 'Metaversos' adicionam complexidade às desinformações ao viabilizar novas formas de manipulação da realidade

Sistematizam-se estudos ao considerar o potencial do Metaverso para promover interesses comuns e superar barreiras, com a preocupação se a tecnologia pode, de fato, fortalecer a democracia ou não. Aponta-se para uma crescente disseminação de fake news em redes internacionais, levantando questões sobre como o Metaverso pode agravar a manipulação de informações. Essas notícias falsas, quando combinadas com ambientes de comunidades, podem induzir à violência e a crimes virtuais, destacando a necessidade de atenção a categorias existentes, incluindo a segurança digital. As implicações da disseminação de fake news no Metaverso sobre a democracia são uma das preocupações, juntamente com a regulação, desigualdades sociais, privacidade do usuário e concentração de poder.

 

ALVES, Guilherme Queiroz Alves; SILVA, Ergon Cugler de Moraes. Understanding citizen information dynamics and barriers: Crossroads of Political Science & Public Policy. 2023.

A desinformação se manifesta como uma barreira informacional sobreposta na limitação do exercício da cidadania

Sintetizam-se estudos sobre as barreiras à participação cidadã, destacando: 1. Limitações de acesso à tecnologia: A falta de acesso à internet, dispositivos de qualidade e seu impacto nos grupos vulneráveis; 2. Habilidades digitais limitadas: A dificuldade em discernir informações e tomar decisões informadas, mesmo com acesso à tecnologia; 3. Sobrecarga ocupacional: A falta de tempo devido a obrigações diárias, como trabalho e escola; 4. Sobrecarga de informações: A dificuldade em acessar informações relevantes devido ao excesso de fontes; e 5. Disputas de (des)informação: A disseminação intencional de notícias falsas, tornando a busca por informações desafiadora.

SILVA, Ergon Cugler de Moraes Silva. Implementando unsupervised machine learning em netnografias de comunidades digitais do Telegram: Explorando teorias da conspiração. 2024.

As comunidades conspiracionaistas conseguem ter inter-conexão entre si, mesmo que possuam pautas diferentes

Foram analisados mais de 33.000 conteúdos de 15 comunidades de teorias da conspiração no Telegram em um mês, incluindo ‘Nova Ordem Mundial’, ‘Globalismo e Anti-Climática’, ‘AntiVax’, ‘Terraplanismo’ e ‘Conspirações Gerais’. Apesar das diferenças de foco dentre as comunidades, as palavras-chave comuns nas indicam preocupações compartilhadas, como desconfiança em instituições, teorias de saúde pública preocupantes e desafio à ciência. A sobreposição de conteúdo entre as comunidades é evidente, mostrando que essas teorias superam temas específicos de conspirações.

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